Logo no início do filme, um texto relembra os tempos de batalhas religiosas na Península Ibérica, evocando memórias de amantes que ainda hoje percorrem essas terras, condenados a uma tormenta eterna. Utilizando textos de Almeida Garrett e Luís Vaz de Camões nas declamações poéticas das suas personagens, o filme é inspirado na lenda de Bela Mandil, assumindo um carácter fabulístico, ao imaginar o reencontro dos dois amantes, ao mesmo tempo que, quase de forma documental, regista a forma como os ecos do passado encontram efeito nas testemunhas do presente, os pescadores da praia que são afetados por essa crença. O que começa por ser um filme tradicional, aproximado de um legado de filmes de recriação histórica, mesmo que aqui a adaptação da história provém de legados místicos e fantasiosos, acaba por divergir, mesmo que temporariamente, para uma abordagem mais experimental, quer pelo uso das cores e filtros, quer pelo uso de sons exógenos ao que retrata. Este encontro entre o velho e o novo, entre o antigo e o moderno, reflete assim de forma singular o embate entre as tradições antigas e a convivência com os tempos modernos. “Bela Mandil” teve a sua estreia no Viennale Vienna International Film Festival e fez parte da seleção oficial do IndieLisboa. (JA)