Animar
O Dia Mais Curto
Loja das Curtas
Solar
Agência
2019 - DO CÉU AO RIO

DO CÉU AO RIO
DO CÉU AO RIO

António Reis

César Guerra Leal

 · 

1964

 · 

Portugal

 · 

DOC

 · 

17

'

Fazer uma história material do cinema de António Reis e Margarida Cordeiro significaria, em primeiro lugar, refletir sobre um método de análise. Em complemento da crítica, da história do cinema, e dos estudos fílmicos, esta perspetiva levaria em conta a dimensão material de todos os filmes. Esta dimensão material deve entender-se, desde logo, em sentido estrito, como uma análise das condições técnicas que influenciam a produção, a distribuição e a vida de arquivo dos materiais fílmicos que constituem uma obra cinematográfica e que influenciam a construção, receção e memória de um filme. Em segundo lugar, deve estender-se também à análise do seu circuito exibidor, isto é, ao historial das sessões privadas e públicas, comerciais e não-comerciais, através das quais uma obra construiu a sua relação com o público. Ou seja, perceber em que condições materiais foi exibida uma cópia, como se comportaram os espectadores, como o trabalho do projecionista ou as condições da própria sala terão influenciado a receção da obra. Finalmente, não pode esquecer o processo criativo da obra cinematográfica, as tensões entre os diferentes elementos desse processo, e a existência, porventura, de diferentes versões, realizadas ou não, a que se devem acrescentar os eventuais restauros de um filme. Antes de “Jaime”, António Reis realizou dois filmes com o produtor César Guerra Leal: “Painéis do Porto” (1963) e “Do céu ao rio” (1964) — e não “Do rio ao céu” como tem sido erradamente referido nas filmografias de António Reis. “Do céu ao rio” foi estreado no cinema Odéon, em Lisboa, em 29 de Janeiro de 1964, mas encontra-se numa situação patrimonial mais frágil uma vez que não está localizado o seu negativo de imagem original. Além do negativo de som ótico de 35mm, foram depositadas na Cinemateca, em 2008, duas cópias do filme, uma em 16mm e outra em 35mm, ambas infelizmente em muito avançado estado de degradação cromática devido às deficientes condições de conservação em que terão sido guardadas desde a época de produção. Esta curta-metragem, provavelmente uma encomenda da Hidro-Eléctrica do Cávado, mostra vários aspetos da construção da rede de barragens daquela bacia hidrográfica, com um comentário lido por Fernando Pessa. O interesse destes filmes foi muito cedo assinalado por Fernando Lopes, que os indicou, aliás, como uma das razões para arriscar a produção de “Jaime” no Centro Português de Cinema (CPC): “Tinha visto uma ou duas coisas que o Reis tinha feito, uns pequenos documentários em que ele tinha participado. Tinha ficado muito impressionado com as imagens no meio daqueles documentários turísticos que não eram nada imagens turísticas, mas eram imagens que tinham uma visão transfiguradora da realidade...”(1) No entanto, o desenvolvimento desta impressão ficou suspenso devido à inexistência até muito recentemente de cópias projetáveis destes dois filmes. Invisíveis desde os anos 1960, não tendo igualmente sido incluídos na grande retrospetiva Reis e Cordeiro organizada pela Cinemateca e o Cineclube de Faro no âmbito do Rotas – Programa de Difusão Cultural do Ministério da Cultura, em Novembro de 1997, estas curtas-metragens receberam apenas referências muito sumárias nos estudos sobre a obra dos realizadores. Espera-se que a preservação de 2013-14 do primeiro filme e os trabalhos de digitalização e restauro digital da imagem do segundo possam alterar essa situação, devolvendo os filmes ao olhar do público e contribuindo para a análise do seu papel nesta fase inicial da carreira de António Reis. O crítico A. Roma Torres resumiu de maneira certeira a questão da “invisibilidade” do cinema de Reis e Cordeiro quando escreveu, em 1992, que os seus filmes “têm uma relação rara com o espectador. Em primeiro lugar, eles não se dão a ver. De uma forma geral os seus filmes não têm acesso à exibição normal. O espectador não os encontrará num programa vulgar. Há como que um ritual que desde logo obriga o espectador a ver o filme em condições de particular disponibilidade. A “aura” dos filmes de António Reis e Margarida Cordeiro tem qualquer coisa de religioso, de sagrado”(2) . Esta invisibilidade forçada dos filmes acarretava, ainda segundo A. Roma Torres, um paradoxo. Apesar de estes filmes não se darem a ver, eles “procuram uma relação invulgar com o espectador durante a projeção. Pode dizer-se que são filmes feitos para serem vistos mais de uma vez, e frequentemente a cada vez se descobrem novos sinais e novas relações.” No entanto, o modo de receção a que os filmes convidam foi historicamente sabotado pela dificuldade de ver estas obras. Uma breve resenha quantitativa esclarece a relação direta entre a preservação dos filmes e a sua exibição: desde a retrospetiva de 1997, “Jaime” e “Trás-os-Montes” foram mostrados na Cinemateca 12 vezes cada um; “Ana”, 6 vezes; e “Rosa de Areia”, 4; o próprio “Painéis do Porto” foi mostrado 1 vez, em 2013, pouco após a sua preservação. “Do céu ao rio” nunca foi mostrado. As exibições fora da Cinemateca são, por seu lado, significativamente mais numerosas. Desde a retrospetiva de 1997, “Jaime” foi mostrado 16 vezes em sessões no resto do país e 42 no estrangeiro; “Trás-os-Montes” 14 vezes em Portugal e 53 no estrangeiro; “Ana” 7 em Portugal e 16 no estrangeiro; e “Rosa de Areia” 6 em Portugal e 15 no estrangeiro. “Do céu ao rio” foi mostrado apenas uma vez. Levar em conta a dimensão material do cinema de Reis e Cordeiro é uma forma de fazer justiça a dois realizadores que, por um lado, tiveram a consciência aguda de que a relação dos seus filmes com o público dependeria da qualidade das cópias projetadas, mas que, por outro lado, viram essa mesma relação sistematicamente perturbada por diversas contingências materiais — dos problemas laboratoriais na revelação e tiragem de cópias aos problemas estruturais do mercado de distribuição. Tiago Baptista 1. Cinemagazine, 17-9-1991, cit. in António Reis e Margarida Cordeiro: A poesia da terra, org. de Anabela Moutinho e Graça Lobo, Faro, Cineclube de Faro, 1997, p. 112. 2. A. Roma Torres, “Estética da invisibilidade”, A Grande Ilusão, n.º13-14, outubro 1991/maio 1992, cit. in A Poesia da Terra, p. 124.

[PRD]

César Guerra Leal

 

[CC]

Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema
www.cinemateca.pt

[DIR]

António Reis

César Guerra Leal
António Reis

 no Curtas

Título

Realização

Ano de Produção

Festival

Categoria

Co-realização

Título

Realização

Curtas Vila do Conde

Festival
Sobre
Curtas Pro

Festival

Contactos

Curtas Vila do Conde

Festival Internacional de Cinema

Praça José Régio, 110

4480-718 Vila do Conde

Portugal


T +351 25 2646516 / 252 643386 (chamada para a rede fixa nacional)

E-mail: info@curtas.pt


Siga-nos nas Redes Sociais

Newsletter

© 2024 Curtas Metragens, CRL

Subscrever Newsletter

Back

Please provide a valid video URL
festival.curtas.pt desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile