Um vulto misterioso revela-se uma figura feminina que caminha nua pelo deserto, na nossa direção. Noutra sequência, a mesma mulher fala ao telefone, discursando sobre o fim do mundo. Num terceiro momento, um casal prepara o pequeno-almoço no seu apartamento, com a mesma mulher das sequências anteriores a abraçar um bebé. O que terão em comum estes três momentos narrativos? Qual a relação entre eles? Tudo e nada. Estará a resposta nas palavras emotivas da mulher ao telefone? Ou na sua expressão desamparada ao caminhar nua? Ou na felicidade que parece encontrar na rotina doméstica? Talvez o encanto esteja mesmo não em tentar decifrar, mas perder-se neste poema visual e impressionista, este abalo que lentamente expande-se nos nossos sentidos. Max Planck, um dos fundadores da hipótese da quântica física, afirmou que a energia tem uma estrutura descontínua e não pode existir senão sob a forma de fragmentos. São esses fragmentos que escondem aqui uma promessa etérea. Artista multifacetado, mais reconhecido como músico, sobretudo na pele de The Legendary Tigerman, Paulo Furtado já participou em várias edições do Curtas, sobretudo na competição de Vídeos Musicais, na Solar e no programa Stereo, e estreia-se agora na Competição Nacional. (JA)