A obra da australiana Pia Borg não é estranha a galerias, museus e festivais de cinema pelo mundo fora, incluindo o Curtas Vila do Conde. Este filme começa com um gravador de bobines de fita de áudio Nagra, verdadeiros objetos de desejo, joias tecnológicas made in Switzerland, cuja qualidade e beleza os tornou objetos icónicos do aparato tecnológico do cinema. Vemos o gravador com as bobinas em movimento enquanto ouvimos uma voz feminina, mas não revelaremos do que fala. Parece mesmo que a voz não foi gravada nas melhores condições e qualidade possível. Talvez as gravações não tenham afinal sido feitas com o Nagra, mas o que importa é que o Nagra é um objeto icónico e de desejo. Além do olhar que este filme nos propõe sobre um assunto (que não queremos revelar), pode também ser visto como um ensaio sobre os media e o que eles dão a ver, mas também sobre os meios que utilizamos para capturar, transformar ou sintetizar imagens e sons, com os quais criamos o cinema e outras artes, que nos permitem imaginar a realidade. (CA)