Um percurso por locais únicos que desafiam o mundo do seu tempo, monumentos para o futuro, construídos por alguns espíritos revolucionários e que se podem classificar, cada um à sua maneira, de utopias arquitetónicas. O filme divide-se em cinco capítulos, correspondentes a cinco obras, entre artistas conhecidos e outros quase anónimos, por esta ordem: o Palais Ideal, construído pacientemente pelo carteiro Ferdinand Cheval durante 33 anos, e celebrado pelos surrealistas e pelos situacionistas; a casa vermelha de William Morris, reação a uma era industrializada e ao declínio do trabalho artesanal; a Torre de Eben-Ezer, monumento ao pacifismo e ao humanismo de Robert Garcet; a interação entre a natureza e a arte à luz de Gaudi e do feminismo no Jardim de Tarot de Niki de Saint Phalle; e o “Cemitério feliz” de Joan Patras, com mais de 800 túmulos multicoloridos e epitáfios humorísticos que Patras esculpiu e pintou ao longo da vida na sua aldeia de Sapanta, na Roménia. Cinco capítulos independentes e cinco obras separadas no tempo e no espaço, mas que Sílvia das Fadas agrega num corpo único, pelos gestos poéticos mas também políticos. Faz questão de filmar, montar e apresentar em 16mm, e o formato é, aqui, mais do que uma questão estética, e procura de uma expressão da materialidade da película. O que a realizadora parece defender, tal como as construções que retrata no filme, é a importância do trabalho manual em desfavor da tecnologia, a relação íntima e visceral do autor com a obra, o regresso a um mundo à escala humana e a procura de novas utopias, porque a verdadeira casa ainda está por fazer. (MD)