Em Teewald, ou Santa Maria do Herval, uma colónia alemã no Brasil fundada em finais do Séc. XIX, mesmo após várias gerações, fala-se ainda a língua ancestral, são mantidas as regras de conduta social, as crianças ouvem os contos tradicionais e celebram-se datas festivas segundo os costumes e o calendário alemão. “Os Olhos na Mata e o Gosto na Água” tem como ponto de partida um texto de Ilhami Paker, investigador turco-germânico, que analisa com bastante ironia as diferenças entre movimentos migratórios, como os de famílias alemãs para o Brasil ou os de jovens operários turcos para a Alemanha, questionando o processo complexo de construção da identidade nacional e evidenciando as dificuldades que os emigrantes tiveram que enfrentar, logo após verificarem que o sonho de uma vida melhor, no paraíso, seria substituído por uma dura realidade. O filme de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes, ambos em estreia no Curtas, articula materiais de arquivo, nomeadamente filmes antigos a preto e branco, fotografias, ilustrações e algumas músicas infantis, para sublimar a narrativa centrada em três histórias que muito bem documentam a vida das famílias de origem alemã no Brasil, o choque entre a sua herança cultural e um novo contexto de fantasia tropical. (MM)