Animador prolífico e genial, e uma presença habitual na programação do Curtas desde 2006, com nove dos seus trabalhos exibidos, Theodore Ushev presenteia-nos este ano com um filme inspirado no livro com o mesmo título, “The Physics of Sorrow” de Georgi Gospodinov, o mesmo autor que inspirou a sua obra anterior “Blind Vaysha”, exibido também em Vila do Conde. Através de pintura encáustica animada, uma técnica nunca utilizada em cinema, que mistura cera de abelhas e pigmentos, usada no antigo Egipto para retratar os seus mortos mais notáveis, Ushev oferece-nos o seu próprio labirinto existencial – assumindo-se, ele também, como uma versão do próprio Gospodinov – numa incursão cativante e pessoal sobre a tristeza, a perda e o abandono. Num turbilhão de memórias, arquivos, coleções, autorreflexões, experiências e emoções, “A anatomia da tristeza” mostra-nos, através de um poderoso traço expressionista, que todos os seres humanos são um repositório potencialmente ilimitado de experiências vividas, um arquivo universal dos sentidos e da história, uma cápsula do tempo de resíduos desordenados do passado e recontextualizações inesperadas e desorientadoras, em direção a algum núcleo de verdade. Porque, como diz o narrador do filme, “nada é tão estéril quanto o esquecimento”. (SR)