Uma das grandes atrações numa feira de diversões é um adivinho, cujo talento para antever o futuro e o desconhecido se evapora no dia em que o regresso inesperado da sua irmã o deixa perturbado. “Stump the Guesser” é uma fascinante e desconcertante comédia surrealista - ou, se preferirmos, um excêntrico melodrama -, servida por excelentes “gags” visuais. As referências diretas ao cinema mudo, como a abertura inspirada no “Gabinete do Dr. Caligari”, a montagem ao estilo da antiga escola soviética e os gestos largos e exagerados dos atores são bem representativas do estilo inconfundível e meta-nostálgico de Guy Maddin, na sua apropriação pós-modernista da tradição do cinema de vanguarda e das técnicas narrativas dos primórdios da arte cinematográfica. Maddin, ativo desde o final dos anos 80 e uma das vozes mais originais do cinema contemporâneo, é autor de doze longas-metragens que intercala com projetos multidisciplinares e curtas-metragens. Desde 2011, tem colaborado com Galen e Evan Johnson no coletivo Development Ltd. A estreia de Maddin na competição do Curtas aconteceu em 2001, com “The Heart Of the World”, e desde então regressou com “Cowards Bend the Knee” (2004), “Odin’s Shield Maiden” e “My Dad is 100 Years Old” (ambos em 2008). Fora de competição, o Curtas exibiu a longa-metragem “The Green Fog” (2018), já corealizada com os irmãos Johnson. (MD)