Algo que reconhecemos no trabalho do realizador iraniano Ali Asgari, presente já por duas vezes no Curtas, é a sua capacidade de transformar situações do quotidiano, os pequenos acontecimentos triviais, em algo fundamental e definidor na vida das suas personagens. Como se tratassem de pequenas fábulas em que, mais do que um julgamento moral, se levantam questões sobre as decisões que tomamos no dia-a-dia, estas dúvidas conseguem atingir uma forte ressonância emocional ao criarem uma relação de cumplicidade entre espectador e protagonista, enquanto pensamos no que faríamos se estivéssemos na mesma situação: “Mais de Duas Horas” (2013) segue um rapaz e uma rapariga numa madrugada na busca de um hospital; em “A Bebé” (2014), uma mãe procurava por alguém que pudesse tomar conta da sua criança; agora, “Witness” retrata uma mãe que acede ao pedido da filha para trocar um vestido e pondera parar para ajudar alguém em apuros. Filmado com um olhar preciso que eleva a tensão potencial de qualquer pequeno gesto, aqui as consequências das decisões atingem-nos de surpresa e perduram no olhar dos outros. (JA)