Neste drama de contornos bressonianos, Nina, uma rapariga de 13 anos, é carteirista e vive com Vassil, um homem com quem aprende e aperfeiçoa as técnicas de roubo e com quem divide o dinheiro conseguido ao longo do dia. O ar circunspecto e até desconfiado da rapariga não deixa adivinhar qualquer outra relação entre as duas personagens que não estritamente profissional. Aliás, a sua companhia mais próxima é um pequeno cão com que se encontra e brinca na rua, junto à linha de comboio: “temos que ir embora daqui”. Numa de várias tentativas de roubo, Nina acaba por ser apanhada, porém a vítima prefere não a denunciar, oferecendo-lhe o almoço num restaurante. Mas haverá espaço para a redenção? Em “Nina”, o realizador búlgaro Hristo Simeonov adota um estilo de pendor realista, com o nervosismo da câmara à mão a colocar o espectador no local da cena, bem perto de Nina e à altura do seu olhar. A posição atenta e protetora da câmara – quase cúmplice, até – não oferece um julgamento sumário sobre o comportamento desta personagem ambígua, explorando, pelo contrário, os meandros da moralidade humana. (AJM)