Laura Huertas Millán regressa ao Curtas, onde já apresentou “El Laberinto” (2018), “jeny303” (2018) e “Aequador” (2012), obras que fundem o cinema etnográfico com processos de criação recorrentes no cinema de ficção, na (re)constituição de um momento temporal concreto na história contemporânea da Colômbia. Este “Jíibie” sugere uma reflexão poética sobre o consumo de cocaína no seu estado natural, pela comunidade indígena amazónica Muita-Muruí, onde a produção e consumo deste produto natural é baseado numa relação de igualdade entre o humano e a natureza, realçando a vitalidade da última para a sobrevivência do primeiro. Huertas Millán percorre as diferentes etapas deste processo, cruzando com testemunhos orais sobre a existência desta mescla de pó verde (designado por “jíibie”) que distingue profundamente a coca do seu significado moderno atribuído pelo europeu colonizador, que mercantilizou um ritual ancestral num bem de consumo. Como uma reminiscência de uma resistência que sobrevive ao longo dos séculos, Huertas Millán torna o filme um gesto político sobre a forma como encaramos a existência desta planta e, num espectro maior, a forma como nos relacionamos com a natureza. (PD)