Sentem-se seguras? Esta é uma pergunta colocada a diferentes mulheres negras ao longo do filme de Ja'Tovia M. Gary, artista e realizadora norte-americana que se estreia no Curtas, e uma questão que ecoa ao longo da duração desta obra. “The Giverny Document” utiliza e reorganiza diferentes elementos visuais que entram em diálogo entre si e colocam novas questões sob o foco da atualidade. A atuação ao vivo de Nina Simone, em 1976, no Montreux Jazz Festival, é sublime, mas quando o filme intercala essa atuação com as imagens de desespero registadas no telemóvel da namorada de Philando Castile, momentos após o assassinato deste pela polícia, ou de imagens de arquivo de declarações de ativistas negros, ou ainda das entrevistas a diferentes gerações de mulheres numa rua do Harlem, todos estes elementos conjugam-se de forma a criar um poderoso comentário sobre a contemporaneidade. Ja'Tovia M. Gary acrescenta ainda imagens gravadas nos improváveis jardins de Monet em Giverny, em que a própria deambula pelas paisagens idílicas, que servem para reforçar um sentimento de perda de controlo sobre o próprio destino, de incapacidade de ação sobre a realidade, a não ser pela via artística. (JA)