Quando somos mais pequenos, a escala das coisas pode assumir contornos diferentes da realidade: um pequeno bosque pode parecer a maior floresta do mundo, um jogo das escondidas pode parecer uma guerra, uma noite pode parecer durar uma eternidade e um pequeno erro pode ser uma tragédia. Dois rapazes correm num bosque numa espécie de jogo “do apanha”, quando um deles se esconde. Para se vingar, o outro resolve ir embora e esconder a bicicleta do primeiro, o meio que o permitiria regressar a casa. A partir desta premissa simples constrói-se um labirinto sensorial, de silêncios interrompidos por ruídos noturnos, de escuridão invadida pela luz da lua, em que os elementos naturais parecem ganhar primazia e a primeira imagem do filme ameaça tornar-se premonitória. “Noite Turva”, um filme denso e misterioso, mas que ao mesmo tempo abre espaço para o espectador ampliar os seus anseios na forma como o filme lentamente desvenda o seu enredo, marca a estreia de Diogo Salgado no Curtas. (JA)