Segundo o Livro de Genesis, Abraão tinha 100 anos quando o seu filho Isaac nasceu, e Sara, a sua mulher, já tinha ultrapassado o período fértil. Isaac foi um dos três patriarcas israelitas, tendo morrido com 180 anos de idade, depois de uma vida pacata em Canaã, que seria bem mais curta se o seu pai o tivesse sacrificado no monte Moriá quando jovem. É precisamente esse célebre episódio bíblico que é revisitado por Fábio Silva em “A Morte de Isaac”, propondo uma versão alternativa, em que os apelos da mãe Sara a uma intervenção divina não terão sido suficientes para fazer Abraão desistir da sua prova de fé e obediência a Deus. Filmado a preto-e-branco, num formato “quadrado” emoldurado, a narrativa assenta numa tensão latente entre pai e filho no regresso do monte após o sacrifício gorado, explorando a tentativa de penitência do progenitor e a desilusão do filho amado, numa imagem recorrente que remete para a poderosa escultura “Pietá” (1499), de Michelangelo. (PC)