Em evocação do centenário de Federico Fellini, Guy Maddin e os irmãos Galen e Evan Johnson propõem este ensaio poético que, de certa forma, une os universos de Maddin e Fellini a partir daquilo que ambos poderão ter em comum: uma visão do cinema como uma arte que convoca a fantasia, os sonhos, as memórias e os fantasmas. E é um Fellini espectral – ou uma amálgama de Fellini e Giulietta Masina – interpretado por Isabella Rossellini que, antes de vaguear por projeções dos seus próprios sonhos, dá o mote no início da narração: “A noite passada sonhei que ainda estava vivo”. Mais um capítulo bem-sucedido das obsessões estilísticas de Maddin - como as manipulações das imagens saídas do cinema mudo de pendor expressionista ou surrealista, e transfiguradas por uma lente deformadora que nos devolve promessas não cumpridas das vanguardas dos primórdios do cinema -, mas também uma oportunidade de evocar o legado de outros cineastas, sempre presente de forma mais ou menos óbvia. Guy Maddin, activo desde o final dos anos 80, é autor de doze longas-metragens que intercala com projectos multidisciplinares e curtas-metragens. Desde 2011, tem colaborado com os Johnson no colectivo Development Ltd. Guy Maddin conta já com várias presenças no Curtas, a última com “Stump the Guesser” (em 2020), já corealizado com os irmãos Johnson, tal como a longa-metragem “The Green Fog”, apresentada fora de competição em 2018. (MD)