Em estreia no Curtas, Zaina Bseiso apresenta um documentário sobre a experiência multi-geracional da Palestina no exílio. Em Los Angeles, ao desejar filmar o último laranjal da cidade, em conversa com o seu pai, estabelecem um paralelismo simbólico com o destino fatal dos históricos laranjais de Jaffa e das suas famosas laranjas, apropriadas mais tarde por Israel como emblema de propaganda nacional, e progressivamente desmantelados desde a implementação de colonatos israelitas nesse território. Bseiso debate-se com a opinião do seu pai, quando este se insurge contra uma postura documental nas intenções do seu filme. Aliás, realça a importância da ficcionalização sobre o destino desse laranjal, por mais certa que seja a sua expropriação. Para o pai de Bseiso, é imperativo contrariar o presente, pois, olhando para Jaffa, da realidade nada se ressalva que não sejam décadas de subjugação a um regime colonial. Mais do que aceitá-la, é necessário viver na ilusão de um novo presente, no sonho de uma realidade porvir. Surge assim o poder da ficção na memória e imaginário coletivos do povo palestiniano: como uma arma de consciencialização do seu direito à autodeterminação; como um ato de resistência em prol de uma realidade há muito sonhada e negada. (PD)