Duas horas de espera pelo próximo voo. Eis o que espera o protagonista deste filme que acaba de perder resvés o avião. Mas não irá esperar sozinho, pois o filme não é sobre si, mas sim sobre aquilo que nele apenas existe na relação com as duas crianças que o acompanham, ou seja, é uma história sobre a paternidade. A câmara começa por nos mostrar que as crianças não são iguais, apesar de terem idades muito próximas. A menina entra no controlo de segurança do aeroporto sozinha, pelo lado das mulheres, e o menino segue com o pai, pelo corredor dos homens. Depois de resolvida a questão do atraso e a compra de novos bilhetes, já na sala de espera, o pai precisa de acompanhar o filho à casa de banho e confia, inadvertidamente, a vigilância da sua filha a um homem com quem acabara de se cruzar. O enredo adensa-se, após a saída do pai e do filho da casa de banho, durante os segundos em que a menina está desaparecida e a câmara desorientada e em pré-desmaio nos mostra a vertigem angustiante do pai que perdeu a filha. Depressa se compreende que o estranho estava na sala de espera com a menina, mas o pai vê, ou afirma ter visto, um acto de abuso sexual apontando o dedo ao suposto predador. O caso torna-se de polícia, mas são as questões psicológicas que se erguem como muros, enclausurando o acusado e o acusador numa dinâmica totalmente reversível. (LL)