Em “Angel” (1957), de Joseph Cornell, há uma estátua que parece olhar para uma superfície de água arredondada que, não lhe devolvendo a sua própria imagem, lhe mostra antes uma contínua “assemblage” de elementos. A natureza parece, assim, imitar a obra do artista. E a figura de pedra, furtando-se ao seu aparente aborrecimento, torna-se eterno espectador do cinema das relações múltiplas, onde nenhum fotograma é igual ao anterior. Sem precisar de “softwares” de tratamento de imagem, nem de cursos de cinema ou de outra aparelhagem para além da luz, o que vemos neste filme é a própria natureza a experimentar com efeitos visuais: máscaras, encadeados, distorções, sobreposições, etc. Diogo Costa Amarante (adaptado)