Reza a lenda que, na Idade Média, vivia no meio de uma África islamizada um soberano cristão de nome Preste João. Nos dias de hoje, na turística Gondar, a cidade grandiosa que foi capital do império etíope durante o século XVI, continua-se a celebrar o Timkat (ou Epifania), nome de uma festa onde se comemora o batismo de Jesus Cristo no rio Jordão, ritual destinado a purificar e salvar o homem do pecado original. A partir desse episódio bíblico, o batismo passou a ser entendido como um ritual identitário de iniciação ao cristianismo e como condição primeira para que os seus seguidores possam entrar no reino dos céus e salvar as suas almas. Ico Costa, de regresso ao Curtas quase uma década depois da sua estreia, retoma processos que lhe são familiares (a película analógica, neste caso super 8mm), o modo de ver (eminentemente observacional) e um eixo temático (África como um espaço heterodoxo) para documentar uma narrativa sobre a importância do passado e da comunidade na definição do presente e dos modos de vida. (PC)