A personagem principal de “Bestia”, uma mulher que vive sozinha com o seu cão, aparenta levar uma existência pacífica: passeios no campo com o seu cão, pequenos-almoços demorados, e um trabalho anónimo que lhe permite levar o cão consigo e até ouvir um pouco de música durante o expediente; à noite anota o seu dia num diário. Porém, pequenos detalhes vão aparecendo aos poucos que vão destapando a mentira escondida pelas aparências tranquilas. Baseado em acontecimentos verídicos, esta é afinal uma visita à vida secreta de uma mulher que trabalhava na Direção Nacional de Inteligência do Chile em 1975, em plena ditadura sanguinária de Pinochet, treinando cães e pessoas para cometer os crimes mais horrendos desse regime fascista. Em pouco tempo, esta animação entra numa espiral surreal, numa sucessão de detalhes tenebrosos: a música era afinal apenas para esconder os gritos das vítimas e o cão é, afinal, um instrumento de tortura. Sem piedade, este é um olhar cáustico sobre uma parte da história que não pode ser esquecida. (JA)