Uma vez mais, o comboio. É através dele que Peter Tscherkassky nos faz regressar aos primórdios do cinema. O título, “Train Again”, convida-nos a ver uma e outra vez, permitindo-nos ver outras coisas, ou as mesmas como diferentes. Cavalos que correm, imagens que galopam, indomáveis. Por entre os carris projetamos uma miríade de ficções a preto-e-branco, antevendo o acidente. Engrenagens e carruagens movendo-se a todo o vapor, como as teclas de um piano em marcha; cruzando-se, sobrepondo-se, fundindo-se. Rostos-fantasma, olhares espantados. Trabalhadores que saem da fábrica, transportando-nos até à primeira sessão pública de cinema. “Western”, abstração, ação, fantasia, tudo se precipita sob o olhar. Tudo é movimento. Vertigem. Tscherkassky, cineasta austríaco que é um dos nomes incontornáveis do cinema experimental, tem tido uma forte presença no Curtas, exibindo diversos filmes. Em 2006 expôs na Solar fragmentos da sua obra em película, de que se serve para atravessar as fronteiras entre o real e o imaginário, o figurativo e o abstrato, a luz e a sombra, e sobrevoando diferentes tempos, em imagens fragmentárias e ilusórias, como as memórias. (RaM)