Um filme que não é apenas aquilo que aparenta é algo que poderia ser dito como lugar-comum de muitos outros filmes. Mas, neste caso, estamos a falar de uma encomenda do município de Alcanena, no Ribatejo, uma carta-branca, supostamente conveniente à promoção da terra e da região, e a uma vila ali ao lado chamada Minde, que resulta numa obra cinematográfica bastante original, fugindo completamente ao expectável filme institucional. Na verdade, a proposta até seria aliciante, e mantida enquanto tal, se não fosse ter surgido, por mero acaso, uma personagem absolutamente irredutível: Cid Manata. Só por si, e apesar da riqueza da paisagem que adquire diferentes matizes, ora profundamente bucólica e rural, ora moldada pela obsolescência da indústria, a história de vida de Cid acrescenta um toque pós-apocalíptico à missão, como se aquela terra fosse malfadada. Por não ter vivido, de facto, o sonho da liberdade pós-revolucionário, que em nada mudou a vida das gentes da sua terra, Cid, como tantas outras pessoas que vivem afastadas dos centros urbanos, envelhece e se esvazia de sentido. Um filme cujo humor se torna contagiante e que trabalha referências várias sobre uma certa riqueza humana, que se observa na sua candura com um breve sorriso nos lábios, o que já vimos em Agnès Varda, cineasta à qual o filme é dedicado. (MM)