Não é a primeira mosca a ser protagonista ou, pelo menos, a ter um lugar preponderante num filme. Todos nos lembramos da magistral obra de Cronenberg, “A Mosca” (1986), onde, numa experiência de teletransporte, o cientista mescla inadvertidamente o seu ADN com o de uma mosca. Aqui, o cenário é bem mais prosaico, a começar pelo transporte, pois trata-se da mala de um velho mercedes. Pelo cenário, não há laboratório escuro, mas sim espaço aberto e até praia. E, por fim, os protagonistas, nada de cientistas geniais, antes dois homens retardados que apenas querem fazer dinheiro ao tentar... domesticar a mosca. Este filme é, pois, uma continuidade no estilo do realizador, que abarca o cinema de género americano, sobretudo o “slasher” e o filme juvenil, mas que não deixa de afirmar uma pertença ao cinema de autor europeu, e a um certo humor pelo absurdo à moda francesa que, em certos momentos, lembra Bruno Dumont, até pela simplicidade das mentes das suas personagens que tudo tornam, afinal, possível, até o mais absurdo dos enredos. De regresso ao Curtas Vila do Conde, onde o seu trabalho foi alvo de uma retrospetiva, em 2015, na 23º edição do festival, Quentin Dupieux traz-nos ainda o seu “Réalité”, filme que passou pelo Festival de Veneza em 2014, que poderá ser visto na secção Cinema Revisitado. (LL)