A par da sua missão de revelar novos talentos e celebrar o melhor do cinema contemporâneo, o Curtas Vila do Conde volta a destacar a importância da memória cinematográfica na secção Cinema Revisitado.

O destaque desta edição vai para o programa “The Last Film”, que desafia a ideia de que as curtas-metragens pertencem exclusivamente ao início da carreira dos cineastas. Aqui, são apresentadas as últimas obras de realizadores consagrados como Douglas Sirk, Michael Powell, Manoel de Oliveira, Jean-Luc Godard ou Roberto Rossellini — pequenas pérolas que, por motivos tão diversos como a saúde, o experimentalismo ou o afastamento da indústria, marcam os capítulos finais de trajetórias notáveis.

Outra das propostas é “Regresso ao Futuro: Geração Curtas, 25 Anos Depois”, que revisita um período de viragem no cinema português. O programa olha para o final dos anos 90 e início dos anos 2000, quando um novo impulso de produção e visibilidade das curtas-metragens revelou uma geração de autores então emergentes. A seleção, introduzida por Paulo Cunha e Daniel Ribas, inclui obras raramente vistas nos últimos anos, assinadas por quatro cineastas que estiveram “no centro dessa transformação invisível, mas estrutural” do cinema nacional.

Por fim, o Curtas presta homenagem a David Lynch, falecido no início deste ano. O festival, que ao longo da sua história acompanhou a obra do realizador norte-americano, exibe agora o lendário oitavo episódio da última temporada de Twin Peaks. Conhecido como o “episódio da bomba atómica”, este momento de televisão surreal e perturbador é considerado um dos mais ousados e visionários já transmitidos — e, para muitos, permanece inédito na experiência coletiva de uma sala de cinema.

Com esta programação, o Curtas Vila do Conde reforça o seu compromisso não só com o futuro do cinema, mas também com a reinterpretação crítica e criativa do seu passado.