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Maureen Fazendeiro e Maryam Tafakory no Curtas
O Curtas Vila do Conde acolhe este ano dois universos singulares do cinema contemporâneo, dando palco às obras de Maureen Fazendeiro e Maryam Tafakory — duas realizadoras que, a partir de diferentes geografias e linguagens, desafiam as formas tradicionais de narrar, filmar e representar o mundo.
Depois de ter apresentado em edições anteriores “Sol Negro” (2019) e “Diários de Otsoga” (2021), Maureen Fazendeiro regressa ao festival com uma retrospetiva completa da sua filmografia, que inclui também “Motu Maeva” (2014) e a estreia nacional de “Les Habitants” (2025), recentemente exibido no Cinéma du Réel. O seu trabalho tem-se destacado por uma abordagem híbrida entre ficção, documentário e experimentalismo, explorando estruturas como a carta, o diário, a cartografia ou a etnografia. As suas narrativas nascem muitas vezes do cruzamento entre imagens de arquivo e novas filmagens, entre o registo íntimo e a crítica social, interrogando a forma como olhamos e retemos as memórias coletivas e pessoais.
Fazendeiro coloca frequentemente a figura da mulher no centro da sua reflexão cinematográfica: seja na voz de Delphine Seyrig, que narra “Sol Negro”; na figura de Sonja André, protagonista de “Motu Maeva”; ou nas personagens femininas de “Les Habitants”, que tentam mediar tensões sociais num bairro dos subúrbios de Paris. A sua obra afirma-se como uma prática sensível e politizada, onde a atenção à forma se alia a um posicionamento crítico e atento às transformações do mundo.
A par desta retrospetiva, o Curtas apresenta também o trabalho de Maryam Tafakory, uma das vozes mais singulares do cinema iraniano atual. Realizadora e artista visual, Tafakory constrói os seus filmes como ensaios visuais profundamente poéticos e politicamente comprometidos, desafiando as restrições impostas ao corpo feminino e à expressão do desejo no cinema do Irão pós-revolucionário. A partir de found footage, sobreposições de imagem, texto e repetições, os seus filmes como “Irani Bag” (2020), “Nazarbazi” (2021), “Mast-del” (2023) e “Razeh-del” (2024) fazem um gesto radical de resistência estética, propondo um “contra-cinema” que convida à leitura crítica das imagens e dos seus silêncios.
Tafakory descreve o seu trabalho como um convite à paranoia crítica: olhar não só para o que se vê, mas sobretudo para o que falta ver — e perguntar porquê. Os seus filmes são gestos de intimidade e denúncia, onde o político emerge do detalhe, do gesto interdito, daquilo que escapa à vigilância do olhar normativo.
Ao reunir estas duas cineastas, o Curtas celebra não apenas a diversidade formal do cinema contemporâneo, mas também a sua capacidade de interrogar o mundo com sensibilidade, inteligência e coragem. Um cinema de resistência e de reinvenção — feito de memórias, silêncios e gestos que abrem caminho a novas formas de imaginar o real.
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