A história conta que se a Geração Curtas corresponderia a uma maior internacionalização e reconhecimento de autores portugueses no estrangeiro, nunca o cinema nacional, e em particular os seus novos autores, atingiram um patamar tão elevado como nos mais recentes anos, conquistando prémios inéditos em importantes festivais de cinema e de forma continuada: por exemplo, entre 2012 e 2017, só no Festival de Berlim, 3 filmes portugueses receberam o prémio máximo para as curtas-metragens. Na verdade, poucas iniciativas semelhantes podem gabar-se de ter dado a conhecer em primeira mão os trabalhos de realizadores que viriam mais tarde a serem galardoados com os prestigiados prémios do Festival de Cannes e de Berlim, como os casos de João Salaviza e Leonor Teles. Vencedor em 2005 do Take! com o filme “Duas Pessoas”, João Salaviza é talvez o nome mais notável entre os que passaram por esta competição, realizador que desde cedo impressionou pela maturidade e assertividade do seu olhar, que combina preocupações sociais com um estilo visual aprimorado e sofisticado, colecionando um currículo invejável, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes para Curtas Metragens em 2009 com “Arena” e o Urso de Ouro do Festival de Berlim com “Rafa” em 2012, “Montanha” - a sua primeira longa-metragem - teve a estreia no Festival de Veneza em 2015. Leonor Teles, vencedora da competição Take One! em 2013, com “Rhoma Acans”, em 2016 viria a repetir a façanha portuguesa de conquistar o prémio principal do Festival de Berlim para curtas-metragens com “Balada de um Batráquio”, obras que revelavam um estilo tão irreverente como confiante, interessada na questão da identidade, olhando quer para o passado quer para o futuro. É actualmente uma das maiores promessas do cinema nacional - a sua primeira longa-metragem teve estreia no Cinéma du Réel e a sua mais recente obra foi selecionada para o Festival de Veneza.
Outro nome que tem vindo a consolidar um currículo assinalável, com vários prémios e presenças nos mais importantes festivais de cinema é Salomé Lamas. Cineasta que trabalha de forma inovadora a fronteira entre formatos como o documentário, experimental e a ficção, que reinventa constantemente o seu cinema, conta com distinções em importantes festivais como FID Marseille, Visions du Réel, DocumentaMadrid e DocLisboa - a sua primeira longa-metragem “Terra de Ninguém” teve estreia no Festival de Berlim em 2013. Com várias presenças quer na competição nacional quer na competição experimental do Curtas, estreou-se no festival precisamente na competição Take One! de 2009, com o seu filme “O Palimpsesto Da Rapariga Cisne Ou Choveu Durante Dois Dias E A Paisagem Alterou-se”. Autor de alguns dos trabalhos mais originais do cinema português recente, Jorge Jácome, depois de uma passagem pelo Take One! em 2010 com “Deixa Cair a Noite”, tem vindo a afirmar-se como alguém a seguir atentamente: com uma passagem pelo Festival de Berlim com o seu último filme, “Past Perfect” foi premiado com o Grande Prémio de Curta Metragem da Competição Internacional da edição 2019 do IndieLisboa e nomeado para os European Film Awards, e o seu filme anterior “Flores”, também vencedor no IndieLisboa (Novo Talento), foi selecionado para o Toronto International Film Festival.
Mariana Gaivão é um dos casos recentes mais notórios da passagem do Take One! para a Competição Nacional do Curtas, que foi também construindo uma filmografia admirável, a par de um percurso de sucesso em festivais de cinema. A realizadora participou na edição de 2007 com o seu filme de escola “Sitiados”, para mais tarde ser seleccionada para a Competição Nacional em 2012 (“Solo”), 2014 (“First Light”) e em 2019 foi distinguida com o prémio para Melhor Realização, com o seu belíssimo e hipnótico “Ruby”, filme sobre um fim de verão e de infância, que teve a sua estreia no importante festival de Roterdão. Também Sofia Bost tem tido um percurso assinalável: em 2015 estreava-se no Take One! com o seu filme de escola “Andorinhas”, e em 2019, o seu primeiro filme - mas já com um olhar seguro e complexo - “Dia de Festa” estreava na prestigiada Semaine de la Critique em Cannes - a curta foi também exibida no programa da Competição Nacional do Curtas.
Com uma dupla passagem pelo Take One!, em 2006 com “Quinta da Curraleira” e 2008 com “desPolido + desPolido ii”, Tiago Hespanha é um dos autores portugueses mais interessantes e arrojados a explorar as possibilidades do género do documentário - a sua mais recente longa-metragem “Campo” foi exibida no Cinéma du Réel e premiada em Locarno. “Anteu”, o filme mais recente de João Vladimiro foi provavelmente das mais obras mais originais e mais bem recebidas (e discutidas) na Competição Nacional do Curtas de 2018, arrecadando passagens pelo Festival de Roterdão e o New York Film Festival, exibindo a visão singular do seu realizador, que estreou-se no Take One! em 2006 com “Pé na Terra”. A dupla Vasco Sá e David Doutel, que se tem afirmado como das mais importantes a trabalhar o cinema de animação em Portugal, e que tem colecionando importantes prémios ao longo da sua carreira, estreou-se em 2008 no Take One! com “Obtuso” (co-realizado com André English), para participarem mais tarde na Competição Nacional com “Fuligem” (2014), pelo qual foram distinguidos com o prémio para Melhor Realização e o Prémio do Público, e “Agouro” (2018).
São vários os novos talentos do cinema português, que tiveram uma passagem recente pelo Take One! e podemos agora acompanhar em diferentes momentos de confirmação do seu potencial: Pedro Peralta, que foi premiado com uma Menção Honrosa na sua passagem pelo Take One! em 2012, com “Mupepy Munatim”, é mais um caso de um cineasta que mais tarde viria a ganhar reconhecimento internacional: a sua impressionante curta-metragem “Ascensão” foi escolhida para a Semaine de la Critique do Festival de Cannes, em 2016, e depois premiada no Indielisboa. Também premiado com uma Menção Honrosa no Take One!, em 2015 com “Sala Vazia”, Afonso Mota foi posteriormente premiado no Indielisboa em 2019 por “Poder Fantasma”; Diogo Baldaia participou em 2014 com “Vulto”, seria mais tarde vencedor da Competição Nacional do IndieLisboa 2017 e selecionado para a Competição Nacional do Curtas em 2019; são nomes a seguir com atenção, tal os premiados recentemente do Take One!: autores como Duarte Coimbra, vencedor em 2018 com “Amor, Avenidas Novas”, deslumbrante filme que foi distinguido com o Prémio Novo Talento no IndieLisboa 2018 e exibido na Semaine de la Critique do Festival de Cannes; Inês Vila Cova, premiada em 2017 com o filme “De Gente Se Fez História”, feito a partir de uma colecção de filmagens amadoras de arquivo em VHS, filme contra o esquecimento, de registos e afetos familiares que são também a história de uma comunidade, as Caxinas; e em 2019, Tomás Paula Marques, com o filme “Em Caso de Fogo”, drama emotivo e sensível sobre um protagonista solitário que apenas quer “fingir que nada aconteceu e continuar a dançar” - estes serão certamente nomes a acompanhar nos próximos tempos e é essa a missão do Take One!, não só oferecer a oportunidade de descobrir novos talentos mas também uma janela para o futuro do cinema português.
(João Araújo)