Na sua 30ª edição, o Curtas propõe um regresso simbólico ao local onde, no fundo, tudo começou. Quando o Cineclube de Vila do Conde (a entidade que organizou as primeiras edições do festival e que hoje em dia ainda continua, de forma autónoma, uma atividade regular e ininterrupta) iniciou o seu percurso, foi no auditório da Santa Casa da Misericórdia, à época equipado com um projetor de 35mm, que acolheu as suas sessões semanais em 1990 e 1991. Mais de três décadas após a última vez em que projetou um filme, a sua engrenagem mecânica vai voltar a funcionar, numa sessão em que o velho projetor ocupa um lugar de destaque. Será apresentada, necessariamente numa cópia 35mm, a obra prima de Joris Ivens e Mannus Franken “Chuva”. Este filme também faz parte da história do festival: foi mostrado em 1995, numa escolha de Manoel de Oliveira a propósito do centenário do cinema, que o próprio apresentou, e em 2002 integrou um dos programas de um ciclo itinerante que percorreu várias cidades do país, assinalando os 10 anos do Curtas. O filme é um marco importante na longa carreira de Joris Ivens e na própria história do cinema. Sendo uma das obras fundamentais do cinema de vanguarda, fazendo de alguma forma parte de uma tradição que se convencionou chamar de sinfonias urbanas (que o próprio Oliveira cultivou em “Douro Faina Fluvial” e cujas obras mais conhecidas serão “Berlim: Sinfonia de Uma Capital”, de Walter Ruttmann e “O Homem da Câmara de Filmar”, de Dziga Vertov). A subtil e poética variação que o filme opera acontece quando passa da observação da vida da cidade para a da chuva que começa a cair, centrando-se no fenómeno meteorológico, nas gotas da chuva, nas nuvens ou nos reflexos na água.

A sessão é apresentada com música ao vivo, onde a guitarra de Paulo Praça acompanhará o ritmo das ruas de Amesterdão e dos aguaceiros.