Se os únicos sentidos que, objetivamente, o cinema partilha com o espectador sobre a realidade filmada são a visão e a audição, o filme de Pulido – presente na secção Generation da Berlinale deste ano –, na sua extrema sensorialidade (e sensualidade), vai um passo além, fazendo-nos aceder aos cheiros (das flores, árvores) e sabores (dos frutos) deste “paraíso perdido” (éden, justamente), outrora um hotel, visitado por dois miúdos pobres sem nada para fazer numa tarde de um calor tropical (e é como se também o sentíssemos, ao calor e à humidade, na pele). É neste espaço abandonado e dominado pela natureza, selvagem como os dois miúdos de tronco nu que o tateiam, que se escondem – e nascem… – vários segredos, do delicioso sabor dos frutos até outros mais sombrios (e há aqui ressonâncias bíblicas, claro, pois aos frutos segue-se um acontecimento marcante). Realismo, sim, mas sempre com qualquer coisa de místico, mágico (não será descabido convocar aqui a tradição do “realismo mágico”, fortemente enraizado na América Latina e cujo maior representante, Gabriel García Márquez, é compatriota do realizador), de que o título do filme é só um indício revelador. A esse Éden/Paraíso da descoberta da natureza, do silêncio, da paz, enfim, da vida, contrapõe-se o “Inferno” da violência e da morte (o simbólico escorpião), e é na sugestão de como ambos estão tão perto um do outro que Pulido, filmando os atores quase sempre em plano aproximado ou em grande plano, deixa uma fortíssima impressão. (FN)