A primeira longa-metragem de Josh Mond é, naturalmente, um prolongamento da sua curta “1009”, também exibida nesta edição Curtas Vila do Conde. Se, nessa curta, vemos um homem enclausurado num quarto de hotel que sofre com memórias anteriores, na longa, esse homem – por sinal, o mesmo ator Christopher Abbott – deambula por uma Nova Iorque contemporânea. É como se a personagem tivesse saído do quarto de hotel (de “1009”) para enfrentar o mundo. Neste caso, a paisagem afetiva de James está a sofrer uma rápida transformação: o seu pai acaba de morrer e a mãe (Gail White, aqui interpretada pela atriz Cynthia Nixon, muito conhecida pelo seu papel na série “O Sexo e a Cidade”) está em rápido estado de degradação devido a um cancro. O filme começa precisamente numa reunião familiar depois da morte do pai de James, em que este conhece, pela primeira vez, a sua segunda mulher. Há, assim, desde logo, uma estranheza nas relações familiares, que vai atingir o pico na ligação entre mãe e filho: James tem que cuidar da mãe, mas a sua própria vida está virada do avesso. Ele não sabe como será o futuro e limita-se a adiar decisões importantes. Com estes dados em cima da mesa, James decide fazer uma “pausa” no México, onde pensa que irá colocar a cabeça no sítio. De certa forma, é isso que acontece, até que o seu mundo volta a estremecer: a mãe volta a piorar da doença. James terá que lidar, por isso, com a degradação física de Gail e com um futuro cada vez mais provável: a morte dela. O equilíbrio instável de James é constante, assim como é a sua terrível solidão numa grande cidade. Só lhe restam as saídas noturnas e os encontros fugazes com mulheres. Nada o prende, apenas a sua relação com a mãe, que tem tanto de ternura como de terrível dependência (para ambos). Josh Mond filma todo este drama com uma câmara colada a James, quase não deixado respirar o espectador e obrigando-o a entrar na deriva emocional da personagem. No entanto, há momentos reveladores em que se encontra um aparente estado de graça, mesmo nas situações mais aterradoras, como quando mãe e filho partilham sonhos impossíveis, sentados na casa de banho. É aí que “James White” tem a sua grande virtude: ser um retrato contemporâneo da vida e da morte e do tremendo esforço que é necessário para nos mantermos à tona numa cidade em ebulição. (DR)